quinta-feira, outubro 19, 2006

Coisas que não se aprendem em 32 anos

#1 - Amor

No inverno as camisolas eram todas feitas em casa. Todas. As minhas e as do meu irmão. Na altura eramos só dois filhos. Sorte a da minha mãe. Agulha com agulha, novelo após novelo, conversa atrás de conversa. Dela. Com a Lina, a Ana Maria e a Lúzia. A manga esquerda podia ser tricotada durante parte do terço ou das histórias da catequese. Aliás, a camisola inteira podia ser tricotada assim. O tema não variava muito.
A escola já não era primária. Tinha acabado de ser antes do verão. Estar em casa era a forma de ver mais do mundo. Com a televisão e o ZX Spectrum. E a aprender inglês precocemente nos anos anteriores com o Follow Me, um programa que me fazia ficar sentado, quieto, atento, silenciado. Love, se não foi é capaz de ter sido, a primeira palavra escutada nessa espécie de versão primária do BabelFish.
Já sabia traduzir amor para outra língua, sem nunca ter dado um beijo. Continuava sem saber o significado da palavra. Estava longe de ser caso único. Como fui percebendo, todos os domingos, ou sábados, durante semanas e meses a fio. Por causa deste vídeo aqui em cima. Há coisas que o tempo não muda, não apaga, está destinado a ser assim. E neste particular, com o peso dos anos em cima, com a experiência, com a união ou a ruptura, mantenho a mesma ignorância. A mesma inocência, a mesma vontade de ver pela primeira vez, de caminhar lado a lado até ao fim e recomeçar tudo de novo.
PS: a música é do tempo do duplo leitor de cassetes do meu tio. Voltei a ela através do novo disco do Júlio Iglésias.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gostei bastante deste texto... forma porreira de demonstrar a inocencia face ao amor, ou talvez a ausencia desta, atraves da infancia...
"A mesma inocência, a mesma vontade de ver pela primeira vez..."
Afinal é esta vontade de ver "o" diferente q nao nos deixa sem a capacidade de conhecer (melhor)o amor.
Parabens pelo trabalho ;)
PS: foste para a ponte D.Luis fazer buracos pa ganhar a reportagem xD ganda maluko, just kidding

8:40 da tarde  
Blogger francisco carvalho said...

Nunca é tarde para aprender.

Belo texto, caro amigo. Quanto à música, essa, nunca gostei muito dela. Faz-me lembrar o pior dos anos 80. Ou melhor, os meus anos 80 foram outros...
Mas também me lembro da minha mãe a tricotar camisolas...

12:13 da tarde  

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